"Em Vila Pouca da Beira, são as serras da Estrela e do Açor que ditam as regras paisagísticas, complementadas depois por umas quantas civilizações que foram encontrando no granito a matéria-prima ideal para deixarem as suas marcas arquitectónicas." Uma estadia nesta pequena freguesia permite de comprehender e partilhar a impressão que deu o lugar ao autor desta frase. Tendo a serra e os campos de oliveiras como cenário, Vila Pouca da Beira guardou sobretudo o aspecto de uma vila do século XVI... os turistas a menos.
Meus antepassados na freguesia Um ramo da minha genealogia tem suas raizes neste pequena freguesia. Manuel Mario de Sousa (n° Sosa 8), nascido em 1889, pai do meu avô paterno, e muitos dos seus antepassados até à 11ra geração (meio do séc. XVII) eram de Vila Pouca da Beira. E tenho a certeza que este ramo poderia ir até ao século X, a época da 1ra Reconquista.
História As origens da povoação são algo incertas, mas a descoberta de moedas romanas no século XIX na quinta das Obras, de sepulturas antropomórficas perto da Capela de São Miguel, e de uma calçada romana, assim como a referência em documentos do século X que referem esta localidade como "Villa", quase que testemunham a ocupação romana e influência deste povo na região.
Segundo as Inquirições de D. Afonso III de 1258, Vila Pouca da Beira não tinha paróquia e fazia parta da paróquia de São Pedro de Lourosa, uma relação antiga que atesta a remota existência da Vila. E nesta altura Vila Pouca da Beira já era um concelho.
A povoação no século XIII tinha um encargo com a coroa, a "colheita", que contemplava trezentos e vinte pães, cinco puçais de vinho, uma vaca, cinco carneiros, dois porcos, vinte galinhas, dois cabritos, dois leitões, duzentos ovos, duas restes de alhos e duas de cebolas, um almude de azeite, uma libra de pimenta, um alqueire de manteiga, outro de mel, uma libra de cera, um mão de linho, um sexteiro de milho para os cães do rei, um alqueide de sal e cinco almudes de cevada.
No arrolamento das igrejas de 1320/1321, ainda não é citada uma paróquia em Vila Pouca.
E conforme o Cadastro da população do Reino em 1527, Vila Pouca surge com mais de 50 fogos. O concelho tinha de comprido meia légua, e de largo, um quarto de légua antiga. A 20 de dezembro de 1519, o rei D. Manuel I deu novo foral a Vila Pouca, curiosamente, um pouco mais tarde comparativamente com os restantes forais da época atribuídos a outras povoações deste concelho. E a 14 de Janeiro de 1540, D. João III deu sentença sobre a jurisdição do Cabido da Sé de Coimbra nos seus coutos, nomeadamente o de Vila Pouca.
O concelho foi extinto por decreto de 6 de Novembro de 1836, integrando-se nessa data a sua única freguesia no concelho de Avô até à extinção deste em 1855, passando para o actual.
Terra de coragem, Vila Pouca da Beira foi mãe de notáveis que orgulharam os seus conterrâneos. Genoveva Maria do Espírito Santo nasceu por volta de 1732. Quando tinha 11 anos, a Igreja Matriz foi vandalizada, e o seu sacrário roubado. Toda a população reagiu com indignação, mas Genoveva sentiu na alma uma dor tão profunda que lhe alimentou a vontade de fundar uma obra, um Convento, no qual as religiosas estivessem sempre na presença do Santíssimo Sacramento. Levada por uma fé e convicção inabaláveis, esta mulher do povo e analfabeta não desistiu perante as dificuldades e começou a pedir esmola às portas, de terra em terra. O seu propósito era tão belo que ninguém lhe negava uma moeda, nem mesmo a família real, pois Genoveva chegou a ir ao Brasil onde recebeu diamantes da rainha Carlota Joaquina. A força desta mulher humilde teve os seus frutos. O Convento do Desagravo do Santíssimo Sacramento foi construído sob lemas como a penitência, austeridade e santidade. Segundo a provisão régia e episcopal, os fundadores foram "a Câmara, a Nobreza e o povo de Villa Pouca da Beyra" que deram os terrenos e certas dotações. Canonicamente foram fundadores Soror Maria Barbara, que foi abadessa, e Soror Maria do Sado. Porém a verdadeira fundadora e dinamizadora foi bem Genoveva Maria do Espírito Santo. Faleceu a 31 de Dezembro de 1821. Contam os antigos que o Convento do Desagravo foi mandado construir pelo Bispo Conde Francisco de Lemos de Faria Pereira no ano de 1780 ; ficando pronto cerca de 1800. Foi convertido num hospital militar cerca de 100 anos mais tarde.
Micaela, outra mulher de Vila Pouca, ficou na História por ter matado um soldado francês aquando das invasões francesas em 1811. O exército francês fugia em debandada, mas destruindo e queimando todas as povoações que encontrava. Assim se passou com São Paio de Gramaços e tambem com Vila Pouca, onde o Convento foi alvo de vandalismo. No entanto, a coragem da sua população ficou mais uma vez provada pelos actos de Micaela.
A José de Abreu Mascarenhas Castelo Branco Brandão deve-se a reforma da Igreja Matriz efectuada em 1818. De espírito altruísta, foi o próprio que custeou integralmente as obras, no valor de 8 contos de réis. Destaca-se ainda o Conselheiro Dr. António Abreu Mesquita, ilustre magistrado, reconhecido pelo Ministério da Justiça e promovido a Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça. Era o dono do único telefone de Vila Pouca, mas no entanto, num gesto caridoso, permitia que o mesmo fosse usado como telefone público. Foi igualmente por seu intermédio que parte da povoação foi electrificada e se alcatroou a estrada. Dono de uma extraordinária biblioteca, o seu gosto pelo saber foi partilhado com as crianças de Vila Pouca, pois a este extraordinário homem se deve a criação de uma escola de instrução primária.
i O topónimo da freguesia deriva do latim "Villa". Na verdade, Vila Pouca significa "Vila Pequena", à qual se adicionou "Beira" para indicar a sua localização. Supõe-se que a designação será do século X ou XI, referente a algum repovoamento após a reconquista de Ceia.
Mapas
Registos paroquiais de Vila Pouca da Beira
i A consultar o registo M1, pude contabilizar os baptismos seguintes : 2+6 em 1593 ; 8+3 em 1594 ; 7 em 1595 ; 4 em 1596 ; 9 em 1597 ; 0 en 1598 e 1599 ; 8 em 1600 ; 6 em 1601; 0 em 1602 ; 0 em 1603 ; 5 em 1604 ; 9 em 1605 ; 7 em 1606
Fontes
Município de Oliveira do Hospital : freguesia de Vila Pouca da Beira Enquadramento histórico et toponímia : livro de Francisco Correia das Neves, Edição do Município de Oliveira do Hospital O site oficial da junta de freguesia apresenta o excelente historial da vila. Só podemos lamentar as numerosas paginas indisponiveis. Arquivo da Universidade de Coimbra : fundos da freguesia de Vila Pouca da Beira Mapas de www.freguesias.pt * Inquérito nacional "CENSOS" 2001
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